sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Desafio EspinhoDagua de contos - tema "Fadas Más" - conto: "Príncipe Desencatado" autora Leona Volpe



Ela girou o taco de baseball nas mãos reluzentes, fez alguns volteios e então o encostou no chão, como um bastão ou um guarda-chuva comprido de um gentleman inglês. Raio de Luar era uma fada, responsável pelo clima romântico, o ar de contos de fadas, aqueles primeiros momentos de todo romance, que faziam os apaixonados se permitirem amar.
Claro, ela gostava do trabalho, no começo. Ela tinha recebido vários presentes dos casais apaixonados, depois de seus casamentos mágicos e blablabla. Era bonitinho, mas com o tempo, tinha se tornado uma coleção de corações partidos.
Alguém sempre ferrava com o seu serviço. Ela não ia generalizar, nem todos os príncipes mereciam ser exterminados, mas esse tipo de aventureiro atrás de uma mocinha inocente em uma torre, ah, esses a tiraram do sério. Tinha gastado uma boa parte de seu pó mágico na última princesa para transformar aquele maldito sapo em alguém decente e CABOOM, tudo arruinado.
Ela esperou até o tipo moderninho surgir e sorrir para ela. Podia adivinhar sua linha de pensamentos: outra princesa perdida, de cabelos loiros longos, olhos azuis, sorriso acolhedor.
Não notou o bastão nas mãos dela e nem mesmo quando o objeto girou nas mãos dela e violentamente caiu em sua direção. Mas sentiu a dor do golpe e o molhado metálico do sangue. Digamos que ela não gostava de retrabalho, era melhor só cortar o mal pela raiz. Logo mais, não tinha nada de encantador em sua aparência e certamente não haveria qualquer final feliz para sua história, não mais.

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Desafio EspinhoDagua de Contos - tema: Fadas Más - conto: "Traquinagens Pela Noite" autor: Will



Ele estava em pé no parapeito do décimo quinto andar. Olhava para o horizonte, enquanto abria um largo sorriso. Estava prestes a pular. Pensava em coisas boas; “pensamentos felizes” ele repetia para si mesmo. Há poucos metros dali, pairando no ar com suas asinhas batendo freneticamente, e rindo para si mesma, a fada que media menos de dez centímetros de altura se regozijava da “traquinagem” que fizera. Aquele era o quinto idiota, só naquela noite, que acreditava que ela era a fada Sininho, que voava para cima e para baixo com Peter Pan. Ela odiava ser confundida com a outra, mas, de uns tempos para cá, resolveu tirar proveito disso. “Você pode voar” ela disse para o homem, “mas eu achei que você e o Pan só visitassem crianças” argumentou o homem; “que nada, você não lembra do filme com o Robin Williams? Nós também levamos os adultos para passear”, “e onde está o Peter Pan?” perguntou o homem, olhando para os lados; “ele está nos esperando lá na Terra do Nunca. Não podemos nos atrasar”. Ela então jogou um pó mágico, que não fazia efeito algum, sobre a cabeça do homem de quarenta anos que acreditava em fadas encantadas, Peter Pan e que poderia voar apenas tendo pensamentos felizes. “Vamos, não demore” disse a fada, dando o incentivo que o homem precisava para pular. Ele pulou e ela não quis ficar para ver o estrago. A noite ainda estava apenas começando.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Desafio Espinho D'água de Contos - tema: Fada Más - conto: A FADA DO CASTIGO, autor Paulo Roberto Queroz Junior




  Ele havia se casado 30 vezes, com 30 princesas, 30 princesas virgens que lhe deram 30 herdeiros, 30 esposas e 30 herdeiros que juntos se tornavam 60 mortes. O ritual sempre era igual, primeiro ele matava com as mãos os servos que ajudavam no parto, depois rasgava com os dentes o frágil pescoço do recém-nascido e bebia todo o seu sangue, por fim, estuprava sua esposa pelo ânus e a fazia sangrar até a última gota de sangue, e esse era o castigo do rei Magnor, o torturador.
  Após o crime, o rei, mesmo sendo um torturador, voltava a sanidade e desesperado tentava se matar com sua espada, cujo a lamina tinha o formato de trovão, mas nem mesmo um trovão de verdade em seu coração o mataria. Quando jovem Magnor perdeu a família na guerra e jurou a si e a seu povo “Serei o senhor da vida e da morte, serei maior que um Deus, pois eles são muitos e eu serei um”, e assim Magnor deu inicio a uma sangrenta e triste dominação do mundo que se rendeu a sua crueldade.
 Toda fúria é cega, e em sua cegueira Magnor matou um príncipe, mas não matou um príncipe qualquer, matou o príncipe Theo, filho do rei do Sul e da Senhora da Floresta, uma Fada chamada Elyah. Ao ver o sangue azul claro de Theo escorrer, Magnor sabia, teria que pedir desculpas a senhora da floresta e parar com seu legado de sangue, tortura e dor, mas antes mesmo de pedir o perdão, a voz de Elyah invadiu sua mente e lhe disse “Se um Deus quer ser, que eterno sejas , Magnor Deus da loucura “  e assim o calvário de Magnor começou, um ser eterno condenado a loucura de matar e condenar sua família a morte.
   Sempre após o crime, Magnor novamente pedia perdão, mas diferente de outras fadas, Elyah não era bondosa, ela não se jugava uma fada, mas sim uma senhora, uma senhora dona do mundo, uma senhora arrogante que havia matado a rainha do sul envenenada, para assim tomar seu lugar ao lado do rei. Se Magnor era cego em fúria, Elyah com sua maldade e arrogância enxergava o futuro, e calculista fez seu marido, filho e povo ir a guerra, e quando a derrota chegou, Elyah utilizando como desculpa a honra de seu povo e a memória de seu filho e marido enfeitiçou Magnor, o tornando Deus da loucura e exemplo de castigo, pois todo aquele que se opusesse a ela, teria o mesmo fim, uma vida eterna, cruel e louca, cujo o pedido de perdão apenas traria um novo começo, o começo de um novo crime e morte, pois 30 vezes Magnor havia pedido o perdão, e 30 vezes ele matou suas esposas e filhos.
    Temida Elyah se tornou a senhora do mundo, uma fada rainha, uma rainha cruel que governa o mundo sentada em um trono de dor e medo, dor e medo de seu povo que teme o feitiço da loucura, o feitiço da pior loucura, a loucura que leva ao fim do amor, razão e do bem mais precioso, a família no qual se ama.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Desafio Espinho D'água de Contos - tema: Fadas Más - conto: UM CERTO ANÃO - autor Kiko Zampieri

 
Um grupo de pequenos homenzinhos voltavam para casa depois de um dia trabalhoso na mina de diamantes. Em fila indiana, caminhavam cantando pela velha trilha dentro da floresta, apesar de cansados ainda restavam-lhes um pouco de energia. A alegria contagiava o grupo, menos um, Zangado, que vinha no meio da fila sem emitir um só som, cabisbaixo e revoltado com o trabalho duro, a distância até a casa e aquela incansável cantoria. Piorou quando ao chegarem em casa, uma jovem ocupava as sete caminhas e havia esgotado todo o suprimento que seria utilizado para o jantar. Porém, todos acharam aquela jovem tão linda e tão inocente, que resolveram buscar mais alimentos na floresta. Zangado ficou. Não aceitava aquela intrusa em sua cama e comendo o seu jantar, resolveu acordá-la. O grupo voltou com algumas frutas e legumes, que caíram pelo chão quando ao entrarem pela porta, viram aquela jovem linda e inocente saboreando o que parecia ser a perna do Zangado e um olhar de fome dirigido à eles.

terça-feira, 21 de julho de 2015

DESAFIO ESPINHODAGUA DE CONTOS - Contos Juninos - "OLHA A COBRA" autora Leona Volpe



— Vai ficar tudo bem — ele disse do avião e Ava podia ouvir o trepidar das asas na tempestade sobre o mar que ele atravessava, mesmo sob a música alta da festa junina que ela tinha sido obrigada a participar. Alguém a um canto narrava o caminho da roça e os casais pulavam, gritavam e dançavam conforme a tradição.
Seu coração se apertou. Oslo seu marido era um dos marinheiros navais mais prestigiados, ao ponto de que quando o governo Brasileiro tinha finalmente conseguido construir seu novo dispositivo psicológico, o simbionte, cuja função era fundir a psique de um soldado com um androide militar para pesquisa em águas profundas, Oslo tinha sido especialmente convocado para escoltá-lo até a Europa, para maiores estudos em Portugal.
Um trovão estourou onde ele estava e Ava saltou em seus pés, aterrorizada que algo pudesse atingir o avião naquele mau tempo.
— Você devia estar se divertindo — Oslo disse, muito calmamente para quem estava no olho da tempestade — pare de se preocupar, logo vou estar em terra firme, tomando vinho do porto.
Ela teve de rir, de nervosismo.
— Ok, vou aguardar que me retorne. — Estava prestes a desligar quando aquele som terrível atingiu seus ouvidos. Não era qualquer coisas como a tempestade, não era qualquer coisa que pudesse ter emergido da festa junina ao seu redor. Era como se um animal monstruosamente grande tivesse tentando se comunicar por qualquer razão — Oslo, está tudo bem?
Algo — ele pareceu pensar sobre o assunto — tem uma coisa enorme nadando logo abaixo de nós, é como um... — ele engasgou naquele segundo e ela pode ouvir o som do Simbionte sendo ativado — Ava, se alguma coisa acontecer, eu estou ligando o equipamento, assim a marinha vai poder localizá-lo...
— Oslo, o que raio está nadando abaixo de vocês? — Ela gritou e pode ouvir o som do animal mais forte e mais perto, a respiração de seu marido ficou mais forte. Pode ouvir o grito do piloto ao longe. Ele dizia histericamente “Vai nos engolir! O maldito dinossauro vai nos engolir!”.
O último som foi o inexplicável som ensurdecedoramente alto, e depois o som do avião se partindo. A ligação caiu e seus dedos afrouxaram, o celular escorregou por eles e caiu no chão também, se partindo. Uma caipirinha a olhou e gritou quando a viu cair em seus joelhos, virando os olhos antes de desmaiar.
As notícias depois disso se sucederam como um filme de Arquivo X. A assinatura psicológica de Oslo ainda estava ativa. O som captado pelo celular equivaleria a um animal 5 vezes maior que uma baleia azul. Quando o avião afundou os radares localizaram um Bloop de proporções alarmantes. O simbionte estava ativo quando foi engolido e todos os dados indicavam que provocou uma fusão entre Oslo e a criatura.
Em 4 meses todos os arquivos sobre o caso foram arquivados e ignorados pela Marinha e tudo o que sobrava da investigação cabia a um minúsculo órgão secretamente ligado a força marítima cuja única ocupação era encontrar o que restou do simbionte antes que piratas achassem suas partes e vendessem no mercado negro, levando para mãos maliciosas uma tecnologia que poderia ser usada para fins terríveis
Ava atravessou os mesmos corredores que Oslo costumava atravessar, deixando seus saltos baterem contra o piso lustroso. A sala de comando da Marinha era algo enorme e engenhoso, com seus computadores organizados por todas as paredes, mostrando cada perímetro da costa Brasileira. Era junho novamente e havia alguma decoração junina por ali.
— Hey — um dos técnicos a chamou e ela se aproximou. Sentou-se ao lado do técnico — eu não devia comentar isso — ele começou sussurrando — mas captamos outro Bloop vindo do Pacífico. Contornou o continente e parece estar vindo em nossa direção — ele girou em sua cadeira — está acontecendo Ava — ele moveu as mãos ao seu redor em pânico — É o apocalipse acontecendo. Logo durante as festas juninas — ele gemeu.
— É igual ao de Oslo? — Ela questionou e o técnico balançou a cabeça positivamente.
— Está vindo atacar a costa, devido a sua grande velocidade. O tamanho comparado aos outros que foram detectados o enquadraria como um Alpha da própria espécie, mas não está em bando. — Ele engasgou e se afastou quando ela se ergueu da cadeira, pegando seus documentos. Em menos de cinco minutos já estava em seu carro dirigindo para a costa, levando sua câmera.
Ainda na ponte ela podia ver a enorme costa escarpada do leviatã, a maneira como se aproximava levantando uma enorme onda de água. Desceu de seu carro quando chegou à enorme área que a Marinha secretamente mantinha, seus saltos ecoavam no silencio pesado e com um único movimento de crachá, os guardas abriram os portões para ela.
— O que está fazendo? — Gritou o técnico em seu comunicador e ela se aproximou do pavilhão X, sentindo seu próprio coração martelar em seu peito, quase como se fosse pular de sua garganta.
— Abra os portões.
— Não! O que está fazendo?!
Ela apertou o botão manual, inserindo sua digital. A porta rangeu ao ser aberta e por um pequeno momento achou que poderia morrer ali mesmo.
Os portões se abriram completamente e uma imensamente pesada pata caiu em terra, seguida de outra e de outras duas. Uma cabeça reptiliana se moveu a sua frente e imensos olhos amarelos a observaram. As narinas se dilataram sentindo seu aroma, a conhecendo.
Ava ligou o comunicador, enquanto se virava para correr em direção à praia, sentindo cada um dos seus músculos repuxarem em terror, enquanto o leviatã-Oslo rugia e corria em seu encalço, de encontro à outra fera aquática que emergia das águas escuras.
Em algum lugar, um narrador de festa junina gritava: “Olha a cobra!”.
— Estou levando meu próprio Alpha para o Apocalipse