— Vai
ficar tudo bem — ele disse do avião e Ava podia ouvir o trepidar das asas na
tempestade sobre o mar que ele atravessava, mesmo sob a música alta da festa
junina que ela tinha sido obrigada a participar. Alguém a um canto narrava o
caminho da roça e os casais pulavam, gritavam e dançavam conforme a tradição.
Seu
coração se apertou. Oslo seu marido era um dos marinheiros navais mais
prestigiados, ao ponto de que quando o governo Brasileiro tinha finalmente
conseguido construir seu novo dispositivo psicológico, o simbionte, cuja função
era fundir a psique de um soldado com um androide militar para pesquisa em
águas profundas, Oslo tinha sido especialmente convocado para escoltá-lo até a
Europa, para maiores estudos em Portugal.
Um trovão
estourou onde ele estava e Ava saltou em seus pés, aterrorizada que algo
pudesse atingir o avião naquele mau tempo.
— Você
devia estar se divertindo — Oslo disse, muito calmamente para quem estava no
olho da tempestade — pare de se preocupar, logo vou estar em terra firme,
tomando vinho do porto.
Ela teve
de rir, de nervosismo.
— Ok, vou
aguardar que me retorne. — Estava prestes a desligar quando aquele som terrível
atingiu seus ouvidos. Não era qualquer coisas como a tempestade, não era
qualquer coisa que pudesse ter emergido da festa junina ao seu redor. Era como
se um animal monstruosamente grande tivesse tentando se comunicar por qualquer
razão — Oslo, está tudo bem?
— Algo
— ele pareceu pensar sobre o assunto — tem uma coisa enorme nadando logo abaixo
de nós, é como um... — ele engasgou naquele segundo e ela pode ouvir o som do
Simbionte sendo ativado — Ava, se alguma coisa acontecer, eu estou ligando o
equipamento, assim a marinha vai poder localizá-lo...
— Oslo, o
que raio está nadando abaixo de vocês? — Ela gritou e pode ouvir o som do
animal mais forte e mais perto, a respiração de seu marido ficou mais forte.
Pode ouvir o grito do piloto ao longe. Ele dizia histericamente “Vai nos
engolir! O maldito dinossauro vai nos engolir!”.
O último
som foi o inexplicável som ensurdecedoramente alto, e depois o som do avião se
partindo. A ligação caiu e seus dedos afrouxaram, o celular escorregou por eles
e caiu no chão também, se partindo. Uma caipirinha a olhou e gritou quando a
viu cair em seus joelhos, virando os olhos antes de desmaiar.
As
notícias depois disso se sucederam como um filme de Arquivo X. A assinatura
psicológica de Oslo ainda estava ativa. O som captado pelo celular equivaleria
a um animal 5 vezes maior que uma baleia azul. Quando o avião afundou os
radares localizaram um Bloop de proporções alarmantes. O simbionte
estava ativo quando foi engolido e todos os dados indicavam que provocou uma
fusão entre Oslo e a criatura.
Em 4
meses todos os arquivos sobre o caso foram arquivados e ignorados pela Marinha
e tudo o que sobrava da investigação cabia a um minúsculo órgão secretamente
ligado a força marítima cuja única ocupação era encontrar o que restou do
simbionte antes que piratas achassem suas partes e vendessem no mercado negro,
levando para mãos maliciosas uma tecnologia que poderia ser usada para fins
terríveis
Ava
atravessou os mesmos corredores que Oslo costumava atravessar, deixando seus
saltos baterem contra o piso lustroso. A sala de comando da Marinha era algo
enorme e engenhoso, com seus computadores organizados por todas as paredes,
mostrando cada perímetro da costa Brasileira. Era junho novamente e havia
alguma decoração junina por ali.
— Hey —
um dos técnicos a chamou e ela se aproximou. Sentou-se ao lado do técnico — eu
não devia comentar isso — ele começou sussurrando — mas captamos outro Bloop
vindo do Pacífico. Contornou o continente e parece estar vindo em nossa
direção — ele girou em sua cadeira — está acontecendo Ava — ele moveu as mãos
ao seu redor em pânico — É o apocalipse acontecendo. Logo durante as festas
juninas — ele gemeu.
— É igual
ao de Oslo? — Ela questionou e o técnico balançou a cabeça positivamente.
— Está
vindo atacar a costa, devido a sua grande velocidade. O tamanho comparado aos
outros que foram detectados o enquadraria como um Alpha da própria espécie, mas
não está em bando. — Ele engasgou e se afastou quando ela se ergueu da cadeira,
pegando seus documentos. Em menos de cinco minutos já estava em seu carro
dirigindo para a costa, levando sua câmera.
Ainda na
ponte ela podia ver a enorme costa escarpada do leviatã, a maneira como se
aproximava levantando uma enorme onda de água. Desceu de seu carro quando
chegou à enorme área que a Marinha secretamente mantinha, seus saltos ecoavam
no silencio pesado e com um único movimento de crachá, os guardas abriram os
portões para ela.
— O que
está fazendo? — Gritou o técnico em seu comunicador e ela se aproximou do
pavilhão X, sentindo seu próprio coração martelar em seu peito, quase como se
fosse pular de sua garganta.
— Abra os
portões.
— Não! O
que está fazendo?!
Ela
apertou o botão manual, inserindo sua digital. A porta rangeu ao ser aberta e
por um pequeno momento achou que poderia morrer ali mesmo.
Os
portões se abriram completamente e uma imensamente pesada pata caiu em terra,
seguida de outra e de outras duas. Uma cabeça reptiliana se moveu a sua frente
e imensos olhos amarelos a observaram. As narinas se dilataram sentindo seu
aroma, a conhecendo.
Ava ligou
o comunicador, enquanto se virava para correr em direção à praia, sentindo cada
um dos seus músculos repuxarem em terror, enquanto o leviatã-Oslo rugia e
corria em seu encalço, de encontro à outra fera aquática que emergia das águas
escuras.
Em algum
lugar, um narrador de festa junina gritava: “Olha a cobra!”.
— Estou levando meu próprio Alpha para o
Apocalipse